quinta-feira, maio 15, 2008

Jesus e o Sofrimento Humano
























João 11:33-35
33) - Jesus, pois, quando a viu chorar, e também chorando os judeus que com ela vinham, moveu-se muito em espírito, e perturbou-se.
34) - E disse: Onde o pusestes? Disseram-lhe: Senhor vem, e vê.
35) - Jesus chorou.


Desde a nossa infância ouvimos falar sobre Deus.
Não importa em qual cultura, a presença deste ser, mitológico pra alguns, mas real para muitos, é constante em relatos, estórias, histórias, cultos e rituais.
Embora muitos ao redor do mundo o tenham por real, a idéia que fazem deste Deus é a de um ser distante, frio e impessoal, seja o Zeus habitante do distante e intangível Olímpio ou o fabuloso Odin da mítica e inalcançável Asgard, ou Sheeva, Tupã, Osíris, Júpiter, deuses dos mais diversos panteões, mas todos com uma característica em comum, impessoais, distantes e indiferentes com o homem e sua história.
No Judaísmo vamos encontrar um Deus mais preocupado com a história humana, um Deus que busca o homem, que caça o homem no jardim, que tenta uma história de sucesso com uma família no Éden e apesar da frustração, tenta mais uma vez a mesma história com uma família no barco grande.
Um Deus que intervém, mas que procura não interferir, não por displicência, omissão ou indiferença, mas por respeito à capacidade de escolha de suas criaturas.
Um Deus tão participativo que faz aliança com o homem, no Ararat, em Moriá, no Horebe ou Sinai, sempre se comprometendo com o ser humano e sempre em prol deste ser humano.
A verdade é que Deus se afeiçoa tanto ao homem que dele se torna parente!

Um Deus Humano?
No Cristianismo, que na verdade seria uma continuação ou outra versão do judaísmo, (ou sei lá o que, o certo é que o cristianismo está profundamente ligado ao judaísmo), bem, no cristianismo, encontraremos um Deus que se compadece da raça humana e dela se torna parte.
No evangelho de João encontramos o relato do Deus que se faz gente, que se torna como eu e você, suscetível as mesmas fraquezas, paixões, dores, prazeres, alegrias e sofrimento.
O Deus eterno se torna filho de Abraão, filho de Davi, de Jessé, de Isaque, Jacó, Judá, José e Maria, se torna parente, se faz aparente!
No cristianismo temos um Deus tão amoroso, tão compassivo, tão amigo, que dá o filho dele para que seja nosso filho, nosso irmão e nosso pai.
Não há relato semelhante em nenhuma outra religião ou mitologia.
Temos então aí um Deus que conhece pessoalmente a crise e as falências humanas, não somente porque é onisciente, mas porque também é homem, “porque só quem sofreu sabe avaliar quem sofreu”.
Esta é uma das verdades mais lindas do evangelho, é a beleza da religião e faz parte da disciplina que coroa a teologia, a cristologia.
Infelizmente a verdade seja clara, evidente e de fácil compreensão, não é este Deus, este Jesus, não é este o evangelho que tem sido anunciado de cima dos púlpitos “evangélicos” do Brasil.
O Deus Emanuel, o Cristo presente no sofrimento humano não tem sido o suficiente para os cristãos.
Estamos em meio ao anúncio do Cristo Leão, do cavaleiro no cavalo branco, que desembainha a espada e ruge botando seus inimigos pra correr. No zodíaco evangélico entramos no ano do Leão e na era da unção.
Em Apocalipse 5.6, na revelação extraordinária de João, um ancião de dias lhe apresenta o Leão da Tribo de Judá, mas só lhe é revelado “um Cordeiro como tendo sido morto”.
Estamos vivendo a síndrome do já ganhou, a mesma que acomete os atletas de super-times, que se acham invencíveis e não conseguem se concentrar no combate que têm pela frente nem nas artimanhas dos rivais, e consequentemente caem, se frustram, morrem na praia.
Se existe um signo, uma marca, um sinal do qual estamos debaixo, é a cruz e suas implicações, toma sua cruz e segue-me nos ordena o mestre, mas a igreja tem abandonado a cruz pelo meio do caminho, tem trocado a missão pelas promessas de vantagens aqui e no além-túmulo, ou seja, uma boa pensão alimentícia em vida e um gordo seguro de vida na eternidade.
Aqui, nas sinagogas evangélicas tupiniquins, têm se anunciado um evangelho de vitórias sucessos e prosperidade, onde o sofrimento é conseqüência do pecado e da falta de fé, ou pior, da infidelidade.
Onde o choro só é permitido se ele for o prenuncio de uma manhã gloriosa de bênçãos.
Não quero de nenhuma forma fazer apologia ao sofrimento e dizer que o crente tem mesmo é que sofrer e se ele quer vitória, vai chorando geme e chora!
A verdade é que o sofrimento é uma constante na vida do ser humano; sofremos ao nascer, sofremos ao morrer, sofremos porque amamos, sofremos porque não somos amados, sofremos porque chegamos cedo demais, sofremos porque chegamos tarde, sofremos porque temos que esperar, sofremos porque não somos esperados, sofremos porque temos dores, sofremos porque os outros sofrem, enfim, sofremos sempre e sempre temos motivos para sofrer.
Mas o sofrimento é só um detalhe, a esperança é muito maior e a alegria realmente vem pela manhã, mas não sabemos o quanto esta noite poderá durar, por isso é muito importante que nossa lâmpadas estejam bem cheias de óleo, porque chorar toda a noite já será um desafio, agora chorar a noite toda e no escuro, ninguém merece.
A pregação deste evangelho de não-sofrimento leva as multidões a negarem suas dores e problemas, e que nega suas mazelas, não as enfrenta, não as combate e se assim faz não as vence, não as domina, e consequentemente se frustra, morre na fé, foge de Deus e do evangelho.
Neste trecho do evangelho de João, vemos que o próprio Deus-homem-Homem-deus, se agita, se perturba com o sofrimento e chora!
Alguém pode dizer, “ah, mas ele ressuscitou o morto ou não”?
Sim, ressucitou porque teve poder, teve fé para tal, e me envergonho de dizer que não tenho fé e poder pra isso, aliás os casos de ressurreição hoje são raríssimos, e muitos dos pouco relatados são relatos mentirosos de falsos profetas ladrões das ofertas do altar.
Agora o que mais me impressiona não é que um Deus tenha o poder divino para curar, ainda que limitado por estar em estrutura e essência humana, mas é que tenha o poder humano de se compadecer e chorar.
O poder de ressuscitar, muitos de nós ainda não temos, mas o de se perturbar e chorar, este nós temos e podemos usá-los, agora mesmo se for este o caso.
Jesus não nega nem o seu próprio sofrimento, quanto menos o do ser humano, então, se doer, chore.
O sofrimento não é um privilégio humano, é uma permissão divina, é também um certificado de humanidade, é um dos momentos em que o homem é mais humano e mais sensível.
Deus não fecha os olhos para o sofrimento humano, antes, entra na história e intervém, sofre junto, para que também possa ser o consolo e a cura dessa dor.
Jesus não se compromete a evitar com que o ser humano sofra, isso seria nos provar de nossa própria humanidade, porém, se compromete a ser o bálsamo e o alívio, a redenção e a cura, não nos livra da noite escura, mas enche a nossa lanterna de azeite e garante uma manhã clara e radiante no final da noite.

Que Venha o Teu Reino!

Márcio Miazaki

Um comentário:

Anônimo disse...

Pr. Márcio!

Achei sua postagem muito interessante. Às vezes, ficamos preocupados com coisas tão insignificantes, que nos esquecemos o quanto é importante voltar o nosso coração para Deus.
Obrigada por suas palavras.

Um abraço,